Por que pensar a educação cidadã a partir das mulheres?

Texto por: Rossana Iandja

A educação cidadã é o processo de formar indivíduos críticos, conscientes e capazes de participar ativamente da vida pública. Isso significa ter acesso pleno a direitos, espaço para se organizar coletivamente, liberdade de expressão e condições dignas de vida. Mas, historicamente, as mulheres foram afastadas desses espaços, seja pela violência de gênero, pela sobrecarga do trabalho doméstico e de cuidado, ou pelas barreiras sociais e econômicas que limitam sua participação.

É preciso pensar em uma educação cidadã a partir das mulheres porque os desafios que recaem sobre nós são específicos.

Uma mulher que não consegue circular livremente em segurança, que sofre assédio no transporte público ou que depende financeiramente de um agressor, tem sua cidadania constantemente negada. A cada violência sofrida, um direito básico é retirado.

Quando a educação cidadã é pensada por mulheres, ela se torna mais inclusiva, democrática e atenta às necessidades diversas. É nesse ponto que a educação cidadã por e para as mulheres se torna tão urgente. Mais do que informar, ela fortalece a autonomia, ajuda a reconhecer desigualdades, estimula o pensamento crítico e encoraja a organização coletiva para reivindicar mudanças.

Educação cidadã e independência financeira

Uma das interrupções à cidadania está na forma da violência de gênero, que não se resume a agressões físicas: ela pode assumir formas como a violência patrimonial, quando mulheres são impedidas de trabalhar, estudar ou ter acesso ao próprio dinheiro. Essas violências são, também, formas de impedir a mulher de exercer sua cidadania. Isso porque elas afetam a saúde mental das mulheres, impedindo que tenham energia ou tempo de demandar direitos - ou sequer acessar os que já lhes são garantidos.

Sem autonomia econômica, muitas permanecem presas em ciclos de abuso por não vislumbrar alternativas de saída. Por isso, aprender sobre finanças pessoais, gerar renda e acessar políticas públicas de apoio não é apenas uma questão econômica, mas um ato de sobrevivência e libertação.

Ainda assim, não podemos cair na armadilha de achar que tudo depende apenas da mulher. A conquista da autonomia é também um compromisso coletivo: exige políticas públicas de inclusão no mercado de trabalho, acesso à educação, creches, combate à desigualdade salarial e incentivo ao empreendedorismo feminino.

Além disso, a rede entre mulheres é fundamental. Coletivos, projetos sociais, grupos de apoio e até rodas de conversa fortalecem a autoestima, ajudam a identificar situações de violência e criam estratégias conjuntas de saída.

A educação cidadã por e para as mulheres é mais que um direito: é uma chave para romper ciclos de exclusão e violência. É a chave para uma sociedade mais justa. Ela amplia horizontes, dá voz às que foram silenciadas e mostra que igualdade de gênero é condição essencial para a democracia.

Investir nessa educação é garantir que cada mulher tenha não apenas consciência de seus direitos, mas também ferramentas para exercê-los plenamente. É sobre transformar dor em potência, silêncio em luta e desigualdade em justiça.

Para conhecer de forma aprofundada como a educação cidadã e a independência financeira podem contribuir para o enfrentamento à violência de gênero, acesse a apostila “Independência financeira como sobrevivência à violência de gênero”, elaborada em parceria com o programa Salto Inclusão Produtiva.